01 outubro 2006

Apelos tardios

«Durante décadas, quem geriu a função pública deixou-se cair numa armadilha. Admissões, aumentos salariais, regalias, como se gerir fosse um cortejo de condescendências. Chegámos a 737.774 funcionários: 14,5% da população activa, recebem 14,5% do PIB. Os 85,5% do PIB restantes têm de pagar aos 85,5% de trabalhadores restantes, os juros, rendas e lucros brutos de todas as empresas e a totalidade dos impostos indirectos recebidos pelo Estado português. A função pública recebe 34% do total de pensões de reforma pagas pelo Estado português.

É este o drama: não é possível tratar por igual 737 mil pessoas. Atingiram-se cúmulos de desperdício e cúmulos de injustiça. Há funcionários públicos a mais e funcionários públicos que merecem muito mais. É esta a essência do desafio: fazer mais com menos gente; ter funcionários públicos mais bem pagos e motivados; enterrar ficções; construir uma cultura de serviço público, de avaliação de desempenho e de mérito. Contamos com o Governo e esperamos a colaboração do movimento sindical. A oportunidade parece única; amanhã poderá ser demasiado tarde.» [Expresso assinantes Link]

Este artigo repescado do blog Jumento, confirma o que eu digo há muito tempo. Somente, quem o escreveu, é alguém que pactuou com o sistema, que não denunciou em tempo útil, enquanto tinha peso … Até nutro alguma simpatia pelo Daniel Bessa, ouvi-o discursar duas ou três vezes, e penso que é alguém de valor. Contudo, representa, também e infelizmente o pior da sociedade portuguesa : sabe que se faz mal, mas por conveniências próprias e alinhamento com o politicamente correcto, não se opõe nem denúncia. Agora, tarde e a más horas, vem denunciar o que, enquanto o pode fazer em qualidade de ministro, não o fez por simples cobardia. O que ganhou o Daniel Bessa e o povo português com o adiar da denúncia? Nada, a não ser prmitir o engrossar do monstro Função Pública em detrimento da sociedade portuguesa. Os grandes Homens agem no momento oportuno, e assim escrevem a História. Os menores, mesmo que inteligentes e cultos, constatam os estragos.
NDS.