Sudoku e Batalha Naval
Num artigo do Jornal de Noticias de 14 de Novembro 2005, lê-se :
“É preciso um professor para uma substituição na sala 12". A convocatória é feita por altifalante. Contrafeito, um professor de Filosofia dirige-se à sala do 7.º ano para substituir a professora de Matemática. Seguem-se 90 minutos de sudoku, batalha naval, jogo da forca e palavras cruzadas. Vale tudo, desde que se mantenham os cerca de 30 alunos na sala. O modelo de aulas de substituição criado pelo Ministério da Educação (ME) está no centro de uma das maiores agitações em que vivem actualmente as escolas de norte a sul do país
Fartos da "balbúrdia" em que se converteram as aulas de substituição, os alunos da Escola Básica 2/3 de S. João da Ponte, nas Caldas das Taipas, Guimarães, organizaram um dia de greve às aulas na sexta-feira passada. No local, os jovens diziam-se "fartos" de aulas que "não têm rendimento nenhum" e em que "os professores nos deixam fazer tudo desde que não façamos barulho…".
Fim de citação.
Como reacção, as organizações sindicais da classe unem-se de imediato para convocar uma greve. É triste que os professores e seus representantes, em vez de procurarem e apresentarem uma solução capaz de resolver o problema, optem mais uma vez pela greve, e assim fugir às suas responsabilidades. A educação é um problema também dos profissionais do ensino, são pagos para isso. Infelizmente, a grande maioria dos professores portugueses encara a profissão como 38 horas de presença semanais na escola, durante nove meses por ano, 14 salários por ano. Como grande objectivo de vida e de carreira, uma reforma choruda aos cinquenta e poucos anos de idade e o resto que se lixe. O insucesso e abandonos escolar, a elevada iliteracia são problemas dos outros. Eles (professores) não tem culpa que a maioria dos portugueses sejam burros, calaceiros e mandriões.
Portugal confronta-se, pelo menos desde 1977, com uma grave crise educativa. Desde essa data até hoje, assistiu-se a um sem número de reformas do sistema educativo, praticamente uma reforma por cada governo, infelizmente sempre com os mesmos resultados: elevadas taxas de abandono escolar, alunos com cursos superiores com poucos conhecimentos e pouco ou nada preparados para as exigências do mercado do trabalho, etc, etc.
Os alunos que tem possibilidades de frequentar os melhores estabelecimentos de ensino privados nacionais ou estabelecimentos de ensino estrangeiros, ou idealmente os dois, ou seja, os filhos dos ricos, esses tem um nível de educação, cultura e conhecimento idêntico, e por vezes mesmo superior, aos dos nossos parceiros europeus. Na prática, isto significa que os portugueses não são menos inteligentes que qualquer outro povo, significa apenas que a grande maioria não tem acesso a um ensino de qualidade.
O que é que proporciona a qualidade do ensino? Vários factores, desde a qualidade das instalações, da clareza e objectividade dos conteúdos programáticos, mas sobretudo, e em 75% certamente, a qualidade dos professores. E, aqui, quer se goste ou não é que reside o problema. Uma grande parte dos professores portugueses não tem qualidade. Professores formados “à pressão” na década de setenta/oitenta, com poucos e por vezes ultrapassados conhecimentos, que por sua vez formaram eles mesmos os mais recentes, não podem proporcionar um ensino de qualidade.
Os nossos governantes e as elites dirigentes da sociedade civil sabem que assim é. Mas, nenhum nestes últimos vinte e cinco anos teve a coragem de o admitir e de responsabilizar os docentes. Esta situação prejudica a todos, e também aos bons professores, que também existem. Mantém-se uma situação de “paz podre”, em nome dos direitos adquiridos não se responsabiliza quem de direito. Toleram-se greves que apenas iludem os problemas.
Eu penso assim : Os profissionais do ensino que resolvam os problemas do ensino. Depois de os resolver, que exijam o justo pagamento. E você, o que pensa?
NDS
2 Comentários:
Bem visto.
Mais uma achega a este assunto neste post do LaranjaComCanela.
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