13 novembro 2005

Arrepios sociais

Gostaria de ser socialista, mas infelizmente não consigo; Os ideais do PS até nem me desagradam de todo, mas confesso que o meu egoísmo natural, uma “curta” consciência social, alguns sentimentos racistas, etc., me impedem de abraçar os ideais socialistas. Gostaria, mas não sou capaz.

Portanto, quando olho para os socialistas de carne e osso que me rodeiam, e falo do Augusto, comerciante, do Quim, funcionário público, do Zeca, operário por conta própria, do Manel, médico de clínica geral, do Asdrúbal, advogado, até me arrepio. Todos eles são socialistas, votam no PS, enfim, sustentam a maioria que nos governa. E aí, é que eu me arrepio.
É que por exemplo, o Manel, médico generalista, amassou uma fortuna significativa, mas são raras as vezes que passa recibo quando se desloca numa consulta a domicilio. No entanto, é socialista. Vota socialista. Foge aos impostos, mandando às urtigas a consciência social, mas isso não o impede de ser socialista.
O Asdrúbal, advogado bem conhecido da praça, comunga do mesmo horror aos recibos e impostos. Disse mesmo uma vez, “ eu, pagar mais impostos, para os cabrões do governo darem subsídios aos mandriões e calaceiros que não fazem nada? Nem pensar”. No entanto, é socialista; vota socialista.
O Augusto comerciante, não esconde que não gosta de maricas, que o lugar das mulheres é em casa, e os dos pretos em África. Tem alergia ao IVA e aos impostos. No entanto é socialista, vota socialista.
O Quim, funcionário público, apenas tem como preocupação defender os direitos adquiridos da classe. As desigualdades da sociedade portuguesa, pouco ou nada lhe interessam. A solidariedade e coesão social tão pouco. Mas é socialista, vota socialista.
O Zeca, operário por conta própria, tem uma casa com quase duzentos metros quadrados, tem um bom carro, mas só declara o salário mínimo. Beneficia de subsídios escolares para os filhos aos quais não tem direito. Mas é socialista, vota socialista.
Socialistas….aos que eu perguntei se conheciam, se alguma vez tinham lido a declaração de princípios do PS, todos sem excepção me disseram que não. Quando lhes perguntei o que os motivava a serem socialistas,não sabem bem porquê.
Pois é, tudo isto causa-me arrepios na ‘espinha’. Arrepios de saber que o Pais é governado por um partido que tem uma maioria assente em gente desta estirpe.
NDS.

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