27 março 2006

Abandono escolar

Num artigo do Dário Digital de 24-03-2006, li que o primeiro ministro afirmou em Bruxelas que o elevado abandono escolar em Portugal constitui o «fenómeno mais deprimente e negativo», uma causa do atraso estrutural do país. Segundo o mesmo artigo, Portugal tem a taxa de abandono escolar mais elevada da União Europeia, 41.1%, correspondente ao dobro da UE. Gostaria de por as coisas doutra forma: Em Portugal, como noutros países, a taxa de abandono escolar da sociedade média/alta ronda os 0%. São poucos os filhos dos ricos ou muito ricos, exceptuando alguns casos atípicos, que não concluem o ensino secundário; a esmagadora maioria deles conclui estudos universitários, e uma grande percentagem estuda ou completa os estudos no estrangeiro. Na classe média baixa, a taxa de abandono é já mais elevada. Na classe baixa, os tais 2 milhões de trabalhadores pobres existentes em Portugal, o abandono escolar atinge uma grande maioria.
Quando um adolescente de 12 a 16 anos vive diariamente em casa situações de miséria, sem que os pais lhe possam financiar extras como uma ida ao cinema, a compra de um disco ou de um livro, por vezes sem uma alimentação correcta nem dinheiro para os livros escolares, qual é a sua motivação para continuar a estudar? Nenhuma. A tentação de ir trabalhar rapidamente para ter alguma independência económica e poder assim satisfazer as suas necessidades é enorme. Os números reflectem essa realidade. Vistas as coisas deste modo, a única forma de evitar o abandono escolar é por um lado, diminuir a pobreza aumentando o poder de compra das famílias, e por outro lado oferecer os livros e alimentação a todos quantos queiram estudar. Países bem mais ricos que nós já o fazem, com um sucesso evidente.

É de lamentar que o Sr. Sócrates, após um ano de governo de maioria absoluta, não tenha tido a coragem de aumentar os salários mínimos de forma significativa e proporcionar condições de igualdade a todos quantos queiram estudar. Ah, já me esquecia, isso seriam medidas de um governo socialista, e nós temos um governo liberal.

NDS.

Simplex 2006

Bonito nome para as 400 medidas de desburocratização da Administração Pública Portuguesa. A iniciativa é de louvar, sobretudo se for acompanhada pela respectiva diminuição dos funcionários públicos que ficarão a mais, a juntar aqueles que sempre o estiveram. Poder-se-á poupar uns milhões de euros e poder-se-á baixar os impostos aos cidadãos que trabalham duro e ganham uma miséria. Apenas o número é curioso, 400 medidas. Não sei onde é que se vai buscar tanta medida, ou isto será mais um dos anúncios faraónicos tão caros ao Sócratex, como a criação dos 150 000 empregos, ou a formação de 1 milhão de portugueses em parceria com a Microsoft ? Tenho receio que o líder do governo prefira a quantidade à qualidade, e nesse caso as medidas acabarão por nos saírem caras.

NDS.

07 março 2006

Burro assim, até eu gostaria de ser

Com quarenta e seis anos, já perdi muitas ilusões. Claro que gostaria de ganhar ao Euromilhões, por isso jogo 5 euritos todas as semanas, a esperança é última a morrer. Mas, de há uns tempos a esta parte, dei comigo a pensar: o que eu gostaria de ser, na verdade, era burro. São raros os dias em que não vou ao palheiro. E o prazer está sempre garantido. Ainda por cima, gratuito. Encontro sempre imaginação, mordacidade e sentido de oportunidade, escrita fluente, simples e agradável. Parabéns ao Jumento, e que continue a destilar coices certeiros durante muito tempo.

NDS

O arbitro vai passar a jogar

Normalmente, o árbitro faz cumprir as regras do jogo aos intervenientes, mas não joga. A partir do dia 9 de Março, o jogo politico português vai ver as regras alteradas. O árbitro também joga. Em vez de duas equipas, o governo e a oposição, passará a haver 3 equipas a participarem no campeonato. Foi assim que Cavaco Silva apresentou a sua candidatura à presidência da republica, não de representante da República Portuguesa e garante da independência nacional como consagrado na constituição, mas de interveniente activo. O seu manifesto de candidatura era um autêntico programa de governo, e com esse programa foi eleito.
Como prova de fairplay, foi-lhe oferecido pelos adversários um suplemento de 1.3 milhões de euros para reforçar o plantel, e será assim o principal candidato ao título.
Já todos sabemos que Sócrates o que quer é jogar. Desde que jogue, tanto lhe faz que seja pela equipa dele, pela do adversário ou mesmo pelas duas ao mesmo tempo. Marca numa baliza e noutra, festejando todos os golos com igual exultação. Para Marques Mendes, que tendo agarrado a titularidade, não tanto por mérito, mas devido a uma pandemia que vitimou as hostes do PSD desde à muito, o que interessa é chutar. Na seu frenesim de se mostrar em campo, chuta sempre, ora na bola, ora nas canelas dos adversários ou colegas. O novo interveniente terá assim a tarefa facilitada. Como nunca se engana, chutará pouco, mas quando o fizer será para ganhar o campeonato.

NDS.

04 março 2006

Sacrifícios

Após um ano de governo, o primeiro ministro diz que o mais difícil está por fazer, e que vai pedir mais sacrifícios aos Portugueses. Contudo, tem boas expectativas para o futuro, segundo ele. Parece-me já ter ouvido esta conversa ao Durão Barroso e à Manuela Ferreira Leite. Antes que Santana Lopes o dissesse, Sampaio tapou-lhe a boca. Aposto que nos dez anos que se seguem, a conversa será a mesma. O que pode acontecer, é que já não haja Portugueses na terra para ouvir, após tantos sacrifícios não é de estranhar que tenham todos ganho o Paraíso.

NDS.

Quem vai casar?

No próximo dia 9 de Março, Lisboa será invadida pela fina nata planetária. Presidentes, pais de presidentes, filhos de presidentes, amigos de presidentes, ex-presidentes, reis, rainhas, príncipes, princesas, vindos da América, Europa, Ásia e África estão anunciados em Lisboa. Uma tal caterva de personalidades e realeza é normalmente sinonimo de casamento real. Ora, que eu saiba, Portugal não tem infantes ou infantas em idade de casar, pergunta-se então quem será que vai casar? Será que o namoro entre Cavaco e Sócrates vai ter o enlace final, mesmo antes da lei que permite os casamentos entre pessoas do mesmo sexo ter sido discutida e aprovada? Não seria a primeira vez que em Portugal se põe o carro à frente dos bois.

NDS

Tendencialmente inexistente

Há dias, o ministro da saúde evocou a possibilidade de a saúde vir a ser paga pelos clientes, contrariando a constituição portuguesa, onde esse serviço é considerado universal e tendencialmente gratuito. Levantaram-se vozes de todos os quadrantes a gritarem ao escândalo, que seria um atropelo à constituição, etc., etc. Estejam descansados, uns e outros pois esse risco não existe. O SNS é sim tendencialmente inexistente, como provam os três anos de espera para uma consulta em oftalmologia no Hospital Distrital de Viana do Castelo, e há muito que atropela, não só a constituição, mas sobretudo os portugueses de poucos recursos, ou seja a grande maioria.


NDS

Parabéns a mim

Hoje faço anos. Mas a festa será dividida entre alegria e tristeza. A minha maior amiga, a minha mãe, está hospitalizada há quatro meses, a sofrer terrivelmente. E eu a quase dois mil Km de distancia, nesta de hora de sofrimento terrível para ela nem sequer lhe posso retribuir o carinho e reconforto que ela sempre me deu nas minhas horas mais infelizes. Assim, só lhe posso deixar uma mensagem : Neste momento, antes da chegada da família e amigos com quem vou festejar, quereria poder sofrer um pouco as tuas dores e angústias, partilhar contigo, como sempre partilhamos, lágrimas e sorrisos, tristezas e alegrias. Agora que chorei, penso que tu me perdoarás que mais logo me divirta um pouco enquanto sofres. A maior prenda, apesar de tudo, serás tu a dar-ma. Eu sei que lembrarás do meu aniversário, e que tu, também, vais chorar, lágrimas de tristeza e alegria. E bom saber que não estamos sozinhos no mundo.